A cidade medieval de Dubrovnik, na Croácia, coleciona qualidades. Cercada por uma antiga muralha e um mar de águas azuis que encantam quem a visita, durante a Idade Média foi a única cidade-estado com vulto suficiente para rivalizar com Veneza.
Outro aspecto que poucos conhecem é que a Pérola do Adriático, como é conhecida a cidade croata, foi o primeiro município europeu de que se tem notícia a implementar uma quarentena inteligente e a construir espaços de isolamento no combate às grandes doenças que afligiram a humanidade. É o que afirmam o arqueólogo Ante Milošević e a médica Ana Bakija-Konsuo no livro "Lazaretto em Dubrovnik: O início do regulamento de quarentena na Europa".
No século 14, uma das épocas da hanseníase, Dubrovnik ainda era chamada de Ragusa e foi o primeiro porto do Mediterrâneo a isolar pessoas, animais e mercadorias provenientes de áreas infectadas por mar ou terra, mantendo-os separados da população saudável, como conta Ana em entrevista a BBC. Ela compara: enquanto Veneza parou todos os navios e comércio, interrompendo a vida na cidade.
A cidade croata aprovou uma lei inovadora para a época: para impedir a propagação da pandemia, todos os navios e caravanas que chegassem de áreas infectadas deveriam se submeter a um isolamento de 30 dias do lado de fora das muralhas para desinfecção.
Além de impor punições e multas rígidas aos infratores, foi necessário construir toda uma infraestrutura própria. A República de Ragusa ergueu um vilarejo de pequenas casas de pedra, batizados de Lazarettos, em homenagem ao padroeiro dos leprosos (São Lázaro), que hoje são uma atração turística e sede de um centro de folclore da região. Até as moradias ficarem prontas, os viajantes ficavam em cabanas de madeira que depois eram queimadas.
"Dubrovnik implementou um método que não era apenas justo, mas também muito sábio e bem-sucedido, e prevaleceu em todo o mundo", escreve Milošević no estudo.
Ninguém sabe exatamente por que o período de isolamento foi alterado de 30 para 40 dias. Alguns sugerem que 30 dias foram considerados insuficientes para impedir a propagação da doença, pois o período exato de incubação era desconhecido. Outros acreditam que a quarentena de 40 dias estava relacionada à observância cristã da quaresma. Outros dizem que os 40 dias são baseados em relatos bíblicos como o grande dilúvio, Moisés ficar no monte Sinai ou os 40 dias de Jesus no deserto.
Veneza oficializou os 40 dias em 1448, quando o senado veneziano acrescentou 10 dias à regra de quarentena de 30 dias para os navios que entravam em seu porto. Em Dubrovnik, o governo chegou à ideia de quarentena como resultado de sua experiência em isolar as vítimas de hanseníase para evitar a propagação da doença, como afirma Ana no estudo.
Em 12 de fevereiro de 1590, o Senado de Dubrovnik decretou que o último lazaretto fosse construído em Ploče, a entrada leste da Cidade Velha. A construção do complexo de lazaretto foi concluída por volta de 1647. Em 1724, o Senado a proclamou parte integrante das fortificações da cidade.
"O Lazaretto preservou sua função original muito depois da queda da República de Dubrovnik, mas não temos certeza sobre o ano em que foi abolido como instituição de saúde; de acordo com o Arquivo Nacional em Dubrovnik, foi por volta de 1872", diz Ana a BBC.
"Este impressionante edifício de pedra representa não apenas um complexo arquitetônico único, mas também uma instituição que melhor descreve a rica herança médica da antiga Dubrovnik."
Via Haus
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